Energista, a aprovação da Lei 14.300/2022 trouxe diversas alterações para quem gera sua própria energia através da micro e minigeração distribuída. Quem usa a rede para gerar e injetar energia pode pagar (e caro) por isso, a não ser que tenha uma alta simultaneidade.
Agora, você deve ter se perguntado: O que é simultaneidade? Qual a importância da simultaneidade para a viabilidade de um sistema de geração distribuída? Por que a simultaneidade tem sido tão discutida quando o assunto é a Lei 14.300?
Se você trabalha no mercado de Energia Solar, ou se tem interesse em atuar nesse setor e até mesmo se você é um consumidor que pretende instalar um sistema de energia solar, é importante estar por dentro desse assunto.
Nesse artigo vou te explicar tudo sobre a simultaneidade e qual o seu impacto nos projetos de geração distribuída, vai entender se o consumo simultâneo é o ideal e se gerar e consumir energia ao mesmo tempo vale a pena.
Bora lá!
Por que a Simultaneidade está em destaque no setor solar?
Antes de mais nada, vou te explicar o contexto para você entender porque falar sobre simultaneidade.
A partir da Resolução Normativa nº 482/2012 (REN 482) da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Geração Distribuída (GD) passou a ter uma importância significativa no mercado de energia elétrica: pois possibilitou que as unidades consumidoras produzissem sua própria energia e conectassem seus sistemas diretamente à rede de distribuição local.
Dentro desse modelo, a ANEEL adotou no Brasil o sistema Net Metering, conhecido como Sistema de Compensação de Energia. Com isso, o excedente de energia produzido pelo consumidor pode ser injetado na rede distribuidora, gerando créditos de energia com validade de 60 meses, que são usados para abater o seu consumo noturno ou em períodos quando a geração não é suficiente.
Porém, a Lei 14.300/2022, trouxe mudanças significativas sobre o sistema de compensação de créditos.
A alteração impactará diretamente na viabilidade do investimento e afetará os diferentes agentes interessados no desenvolvimento do mercado, consumidores, integradores e concessionárias de energia.
Nesse sentido, é preciso entender sobre simultaneidade.
Apesar da palavra ser grande e complexa, não precisa correr e parar a leitura por aqui. Vem comigo que vou te explicar do jeito Energês, fácil e descomplicado.
O que é Simultaneidade?
A simultaneidade corresponde à parcela da energia gerada que é autoconsumida no mesmo momento da geração, não sendo registrada pelo medidor e, portanto, não sendo utilizada no processo de compensação.
Ou seja:
O fator de simultaneidade é um valor percentual:
A simultaneidade pode variar entre 0 e 100%. Logo, quanto maior o autoconsumo local, maior será a simultaneidade e menor será o montante de energia injetada na rede elétrica.
Entenda na prática
A simultaneidade pode variar entre 0 e 100%. Logo, quanto maior o autoconsumo local, maior será a simultaneidade e menor será o montante de energia injetada na rede elétrica.
Vou mostrar um exemplo prático.
Solange e o esposo são engenheiros e proprietários de um escritório que funciona de 8 às 18 horas no Rio de Janeiro, uma cidade onde é verão 12 meses por ano. Haja ar-condicionado!
Com isso, eles buscaram reduzir as despesas do escritório e investiram em um sistema fotovoltaico. Abaixo você pode ver as curvas da Energia consumida pelo escritório e da Energia gerada pelo sistema fotovoltaico.
Agora, perceba que durante o período da noite/madrugada o consumo do escritório é muito baixo, uma vez que apenas algumas luzes, uma geladeira e o sistema de alarme permanecem ligados.
Por outro lado, durante o dia, tanto o escritório como o sistema fotovoltaico estão funcionando e 70% da energia gerada é consumida instantaneamente. Os outros 30% do montante são injetados na rede da concessionária gerando créditos.
Assim, como o consumo do escritório é predominantemente diurno, o mesmo possui simultaneidade alta, que no caso de estabelecimentos comerciais pode atingir mais de 60%.
Como fica a simultaneidade em residências
Então, vendo a economia que os sistema gerou no escritório, Solange e o esposo investiram em um sistema fotovoltaico para a casa da família. Porém, o consumo na casa se dá de forma bastante diferente. Veja no gráfico abaixo:
Durante o dia, toda a família fica fora de casa, ficando apenas uma funcionária, que mantém ligados alguns eletrodomésticos como a geladeira, máquina de lavar, secadora e aspirador de pó.
Perceba que 30% da energia gerada é consumida durante o dia e os outros 70% são injetados na rede gerando créditos. Assim, o maior consumo de energia é noturno (horário em que a família toda está em casa) essa unidade consumidora possui simultaneidade baixa, o que é típico de consumidores residenciais.
Assim, também, é importante destacar que tanto o escritório quanto a casa de Solange enquadram-se na modalidade de geração junto a carga. Nas modalidades de autoconsumo remoto e geração compartilhada, não há simultaneidade. A energia gerada pelo Sistema de Energia Fotovoltaica é totalmente injetada na rede da distribuidora para abater o consumo em outro ou outros locais.
Agora, se você quer entender melhor sobre cada uma das 4 modalidades de geração distribuída existentes clique aqui
Por que a Simultaneidade é ainda mais importante depois da LEI 14.300?
Anteriormente, na REN 482/2012, cada 1 kWh injetado dava direito ao consumidor de recuperar da rede 1 kWh na forma de créditos energéticos, em uma relação “um para um”, o que tornava dispensável análises de simultaneidade (desconsiderando os impostos).
Importante!
Agora, para os projetos já instalados antes da publicação da Lei em 07 de Janeiro de 2022 ou que sejam protocolados na concessionária até o dia 06 de Janeiro de 2023, permanecem nas regras antigas até 2045. Para os demais casos, a cobrança começa a valer, de forma gradual, a partir de 07 de Janeiro de 2023.
A simultaneidade impactará o payback de um sistema de energia solar fotovoltaico conectado à rede da distribuidora, por exemplo.
Ou seja, ao consumir a energia no mesmo momento em que o sistema a estiver gerando, a energia não será registrada pelo medidor, fazendo com que a “taxação” não incida sobre esse montante.
Além disso, quanto maior a simultaneidade, menor a exposição do prossumidor (consumidor que gera a própria energia) às alterações da regulação.
Em suma, sistemas fotovoltaicos instalados em unidades consumidoras comerciais serão menos impactados pelo marco legal da geração distribuída do que os sistemas instalados em unidades consumidoras residenciais.
Energista, será que é possível aumentar a simultaneidade de projetos caracterizados por baixo percentual de consumo instantâneo, como as residências?
Como melhorar a Simultaneidade nos projetos
Sigo com o exemplo anterior. Para um sistema conectado à rede elétrica (on-grid), uma opção para evitar a cobrança pelo uso da rede, seria diminuir a potência instalada do sistema. Por exemplo:
Perceba que nesse sistema o pico da curva de geração foi reduzido, ou seja, foi reduzido o número de módulos fotovoltaicos para que 80% da geração seja consumida durante o período do dia, restando somente 20% para injeção.
Em contrapartida, veja que a quantidade de créditos gerada não é suficiente para suprir o consumo durante o período da noite, sendo necessária a compra de energia da concessionária.
Portanto, o desafio dos projetistas estará em encontrar um equilíbrio entre o aumento de simultaneidade e a energia consumida da distribuidora, visando uma solução que minimize o tempo de retorno do investimento para o cliente.
Uma outra solução para aumento de simultaneidade em sistemas on-grid é a mudança do perfil de consumo, com o objetivo de concentrar o maior uso da energia durante o dia. Contudo, essa solução nem sempre é possível, principalmente quando se trata de consumidores residenciais como a Solange.
Ainda há soluções com sistemas inversores híbridos e com baterias, mas esse assunto fica para um próximo artigo.
Pontos importantes sobre Simultaneidade
– Unidades Consumidoras Residenciais têm cerca de 30 a 40% de simultaneidade;
– Quanto mais simultaneidade no seu projeto, menos você precisa se preocupar com a cobrança pelo fio B trazida pela Lei 14.300;
– Ter atenção com sistemas onde a geração é 100% remota, ou seja, toda a energia é injetada e passa pelo medidor;
– Sempre levar em conta a simultaneidade em consideração nos estudos de payback.
Para aumentar a simultaneidade e evitar as cobranças pelo uso do fio:
– Instalar uma potência menor;
– Adequar o consumo à geração;
– Utilizar uma solução de armazenamento (sistemas híbridos e off-grid).
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Até breve.
Joi e Equipe Energês.
Excelente artigo, tirou minhas dúvidas, muito obrigado
Olá Antonio, como vai?
Que bom que foi esclarecedor. No que precisar conte conosco!
Muito obrigado por essa conteúdo maravilhoso! Ajudou a tirar as duvidas que tinha sobre essa nova lei. Parabéns!
Olá Jameson!
Que bom que gostou do conteúdo. Continue nos acompanhando para ficar por dentro das novas regras da geração distribuída.
Poderia citar um exemplo de simultaneadade para sistemas rurais???
Olá Graziela, para você avaliar o perfil de consumo dos consumidores indicamos que avalie o histórico de faturas dos últimos anos, fazer entrevistas de perfil de consumo ou até medição exclusiva com analisador de energia, para ocnseguir ter um valor mais preciso.
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